domingo, 22 de março de 2009

Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por Nós.

FELICIDADE PEGA

DANUZA LEÃO

FÁCIL não é, mas existem maneiras de procurar a felicidade. A primeira coisa -e a mais importante- é tentar só ter como amigos gente com a vocação da felicidade. É claro que às vezes eles passam por problemas, e devemos ser solidários nesses momentos. Mas existem pessoas que nascem de baixo-astral, sempre se queixando de tudo, só falando de problemas e tristezas.

Se você conviver muito com pessoas assim, pode saber que vai ficar mal. Aliás, gente assim só gosta de se dar com pessoas como elas; quem, nascido com o DNA lá em baixo, vai suportar ser amiga de quem é feliz, otimista, que vive rindo e achando a vida boa?

E não falo só de amigos: se o seu tintureiro se queixa o tempo todo da vida, o professor de ginástica só conta desgraças, a faxineira, as doenças dela e da família inteira, troque, mesmo com dó e piedade. Você tem que se defender, e uma das maneiras é se afastar, fugir, não chegar nem perto.

Eu tive uma empregada que era excelente, e apesar de só se queixar e me contar histórias trágicas (e antigas) -como morreu a avó há 50 anos, a sobrinha que tinha um filho que estava preso, a irmã que pesava 110 quilos e era diabética (tudo com riqueza de detalhes)-, fiquei com ela durante anos, já que era uma ótima profissional. Mas um dia não deu mais. Fiz das tripas coração e a demiti, com todas as vantagens da lei e muitas outras, para me livrar da culpa. Mas fiquei pensando: será que ela vai encontrar outro emprego? E se não encontrasse, a culpa seria toda minha, que deveria ter sido mais paciente e tolerante, sabendo que a vida dela não era fácil etc. etc. Mas sabe aquele dia em que não dá mais?

Pois não deu; assumir minha culpa não foi fácil, mas o que era para ser feito foi feito.

Aí veio uma outra, que não deu muito pé, e antes que laços de amizade se fizessem, dispensei. E aí veio a terceira, e minha vida mudou. Em primeiro lugar, ela é uma pessoa de altíssimo astral. Bem casada, feliz com o marido, e com um sorriso -quando não uma gargalhada- o tempo todo. Quando ela veio pela primeira vez conversar comigo, me chamou logo de Danuza, não de dona Danuza. Como desde que me entendo por gente as empregadas chamam as patroas de dona, achei um pouco estranho, mas não tive nenhuma condição de pedir que ela me chamasse de dona. Afinal, isso não tem nada a ver comigo. E assim fomos indo: Danuza pra cá, Vanúzia (é o nome dela) pra lá, e a vida correndo não só bem, como cada vez melhor. Ela me elogia, diz que o cabelo novo ficou ótimo, e me confessou que adora Clodovil, Agnaldo Timóteo e não perde um show de Fagner, sua grande paixão. Tudo isso me faz rir, e de repente percebi que estava rindo o dia inteiro.

Ontem ela estava na área passando roupa, e de repente ouvi um som estranho. Fui ver e era ela, com o ferro na mão, cantando; cantando alto uma música que nunca ouvi, provavelmente do repertório de Alcione, e quando cheguei à área ela me abriu um grande sorriso e perguntou "quer um chazinho gelado? Você quase não toma água, e água faz bem, vou pegar um copinho para você". Largou o ferro e me trouxe um chá bem gelado, e eu vi o quanto eu era feliz de ter uma pessoa assim perto de mim. Uma empregada que canta e que na hora de ir embora me manda um beijo; tem coisa melhor?

Vanúzia vai levar um susto quando ler esta coluna; é capaz até de mandar emoldurar, mas ela merece, pela felicidade que me dá.

E descobri que felicidade e tristeza são tão contagiantes quanto o sarampo.

sábado, 14 de março de 2009

A VERDADE

Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Internacionais que adoro

On My Own
Nikka Costa

Sometimes I wonder
Where I've been
Who I am Do I fit in
Make belivin' Is hard alone
Out here on my own

We're always provin'
Who we are
Always reachin'
For that risin' star
To guide me far
And shine me home
Out here on my own

When I'm down
And feelin' blue
I close my eyes
So I can be with you
Oh, baby Be strong for me
Baby
Belong to me
Help me through
Help me need you

Until the morning
Sun appears
Making light Of all my fears,
I dry the tears
I've never shown
Out here on my own

When I'm down
And feelin' blue
I close my eyes
So I can be with you
Oh, baby
Be strong for me
Baby
Belong to me
Help me through
Help me need you

Sometimes I wonders
Where I've been
Who I am
Do I fit in
I may not win
But I can be strong
Out here on my own
On my own

Feelings
Composição: Morris Albert / Louis Gaste
Feelings,
Nothing more than feelings,
Trying to forget my
Feelings of love.
Teardrops
Rolling down on my face,
Trying to forget my
Feelings of love.
Feelings,
For all my life I'll feel it.
I wish I've never met you, girl;
You'll never come again.
Feelings,Wo-o-o feelings,
Wo-o-o, feel you again in my arms.
Feelings,
Feelings like I've never lost you
And feelings like I'll never have you
Again in my heart.
Feelings,
For all my life I'll feel it.
I wish I've never met you, girl;
You'll never come again.
Feelings,
Feelings like I've never lost you
And feelings like I'll never have you
Again in my life.
Feelings,
Wo-o-o feelings,
Wo-o-o, feelings again in my arms.
Feelings...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vamos refletir!


Vanusa pra sempre

Pra Nunca Mais Chorar
Composição: Carlos Imperial e Eduardo Araújo

Vem,
vem pra bem perto dos meus olhos
Vivo tristonha a te esperar
Viver pra sempre junto a ti
Oh! Pra nunca mais chorar

Vem,
traz teus abraços pros meus braços
As tuas mãos quero beijar
Viver pra sempre junto a ti
Oh! Pra nunca mais chorar

Vem,
traz tua boca pros meus beijos
Somente a ti eu quero amar
Viver pra sempre junto a ti
Oh! Pra nunca mais chorar
Oh! Pra nunca mais chorar
Oh! Pra nunca mais chorar.

Manhãs de Setembro
Composição: Vanusa e Mário Campanha

Fui eu quem se fechou no muro
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...

E fui esquecida
Fui eu!
Fui eu que em noite fria
Se sentia bem
E na solidão
Sem ter ninguém
Fui eu!
Fui eu que em primavera
Só não viu as flores
E o sol
Nas Manhãs de Setembro...

Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs...(final 2x)

Paralelas
Composição: Belchior

Dentro do carro
Sobre o trevo
A cem por hora
Oh! Meu amor!
Só tens agora
Os carinhos do motor...

E no escritório
Onde eu trabalho
E fico rico
Quanto mais eu multiplico
Diminui o meu amor...

Em cada luz de mercúrio
Vejo a luz do teu olhar
Passas praças, viadutos
Nem te lembras de voltar
De voltar, de voltar...

No Corcovado
Quem abre os braços sou eu
Copacabana esta semana
O mar sou eu
E as borboletas do que fui
Pousam demais
Por entre as flores
Do asfalto em que tu vais...

E as Paralelas
Dos pneus n'água das ruas
São duas, estradas nuas
Em que foges do que é teu
No apartamentoOitavo andar
Abro a vidraça e grito
Quando o carro passa
Teu infinito
Sou Eu! Sou Eu! Sou Eu!...

No Corcovado
Quem abre os braços sou eu
Copacabana esta semana
O mar sou euE as borboletas do que fui
Pousam demaisPor entre as flores
Do asfalto em que tu vais...

Larauê! Lauê! Lauê! Laiá!
Larauê! Lauê! Lauê! Laiá!...

Sonhos De Um Palhaço
Composição: Antônio Marcos e Sérgio Sá

Vejam só
Que história boba eu tenho pra contar
Quem é que vai querer acreditar
Eu sou palhaço sem querer

Vejam só
Que coisa incrível o meu coração
Todo pintado nessa solidão
Espera a hora de sonhar

Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço é natural

Ah, no palco da ilusão
Pintei meu coração
Entreguei o amor e o sonho sem saber
Que o palhaço pinta o rosto pra viver

Vejam só e há quem diga que o palhaço é
Do grande circo apenas o ladrão
Do coração de uma mulher

Ah, o mundo sempre foi
Um circo sem igual
Onde todos representam bem ou mal
Onde a farsa de um palhaço é natural

Ah, no palco da ilusão
Pintei meu coração
Entreguei o amor e o sonho sem saber
Que o palhaço pinta o rosto pra viver

Vejam só
E há quem diga que o palhaço é
Do grande circo apenas o ladrão
Do coração de uma mulher

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Coisas que a vida ensina somente depois dos 40

Amor não se implora, não se pede não se espera...Amor se vive ou não.Ciúmes é um sentimento inútil. Não torna ninguém fiel a você.Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus para mostrar ao homem o que é fidelidade.Crianças aprendem com aquilo que você faz, não com o que você diz.As pessoas que falam dos outros pra você, vão falar de você para os outros.Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.Água é um santo remédio.Deus inventou o choro para o homem não explodir.Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.A criatividade caminha junto com a falta de grana.Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.Amigos de verdade nunca te abandonam.O carinho é a melhor arma contra o ódio.As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.Há poesia em toda a criação divina.Deus é o maior poeta de todos os tempos.A música é a sobremesa da vida.Acreditar, não faz de ninguém um tolo. Tolo é quem mente.Filhos são presentes raros.De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças acerca de suas ações.Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas, chaves que abrem portas para uma vida melhor.O amor... Ah, o amor....O amor quebra barreiras, une facções, destrói preconceitos, cura doenças...Não há vida decente sem amor!E é certo, quem ama, é muito amado.E vive a vida mais alegremente...
Artur da Távola

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

FELIZ TUDO

Em 2009, desejo:
Sucesso
Paz
Amor
Felicidade
Harmonia
Paixões
Afeto
Candura
Solidariedade
Vida

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Seu Francisco - Oswaldo Montenegro


Hino de Duran (Hino da Repressão)
(Kurt Weill/B. Brecht Adapt.: Chico Buarque)

Se tu falas muitas palavras sutis
E gostas de senhas, sussurros, ardis
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar

Se trazes no bolso a contravenção
Muambas, baganas e nem um tostão
A lei te vigia, bandido infeliz
Com seus olhos de raio-x

Se vives nas sombras, freqüentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de dobermann

E se definitivamente a sociedade só te tem
Desprezo e horror
E mesmo nas galeras és nocivoés um estorvo, és um tumorA lei fecha o livro, te pregam na cruzDepois chamam os urubusSe pensas que burlas as normas penaisInsuflas, agitas e gritas demaisA lei logo vai te abraçar, infratorCom seus braços de estivadorTexto Fazenda Modelo(trecho)(Chico Buarque)ERA ASSIM: o que quiser que tenha, tinha.Tinha arrebol? Tinha. Rouxinol? Tinha.Luar do sertão, palmeira imperial, girassol, tinha.Também tinha temporal, barranco, às vezes lamaçal, o diaboDepois bananeira, até cachoeira, mutuca, boto, urubu, horizonte,pedra, pau, trigo, joio, cactus, raios, estrela cadente,incandescências. EnfimA Banda (Chico Buarque)Estava à toa na vida O meu amor me chamouPra ver a banda passarCantando coisas de amorA minha gente sofridaDespediu-se da dorPra ver a banda passarCantando coisas de amorO homem sério que contava dinheiro parouO faroleiro que contava vantagem parouA namorada que contava as estrelas parouPara ver, ouvir e dar passagemA moça triste que vivia calada, sorriuA rosa triste que vivia fechada, se abriuE a meninada toda se assanhouPra ver a banda passarCantando coisas de amorO velho fraco se esqueceu do cansaço e pensouQue ainda era moço pra sair no terraço e dançouA moça feia debruçou na janelaPensando que a banda tocava pra elaA marcha alegre se espalhou na avenida e insistiuA lua cheia que vivi escondida surgiuMinha cidade toda se enfeitouPra ver a banda passarCantando coisas de amorMas para meu desencantoO que era doce acabouTudo tomou seu lugarDepois que a banda passouE cada qual no seu cantoEm cada canto uma dorDepois da banda passarCantando coisas de amorAgora Falando Sério (Chico Buarque)Agora falando sérioEu queria não cantarA cantiga bonitaQue se acreditaQue o mal espantaDou um chute no lirismoUm pega no cachorroE um tiro no sabiáDou um fora no violinoFaço a mala e corroPra não ver banda passarAgora falando sérioEu queria não mentirNão queria enganarDriblar, iludirTanto desencantoE você que está me ouvindoQuer saber o que está havendoCom as flores do meu quintal?O amor-perfeito, traindoA sempre-viva, morrendoE a rosa, cheirando malAgora falando sérioPreferia não falarNada que distraísseO sono difícilComo acalantoEu quero fazer silêncioUm silêncio tão doente Do vizinho reclamarE chamar polícia e médicoE o síndico do meu tédioPedindo para eu cantarAgora falando sérioEu queria não cantarFalando sérioAgora falando sérioPreferia não falarFalando sérioAlmanaque (Chico Buarque)Ô menina vai ver nesse almanaque como é que isso tudo começouDiz quem é que marcava o tique-taque e a ampulheta do tempo que disparouSe mamava de sabe lá que teta o primeiro bezerro que berrouMe diz, me responde, por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabaQuem penava no sol a vida inteira, como é que a moleira não rachouMe diz, me dizQuem tapava esse sol com a peneira e quem foi que a peneira esburacouQuem pintou a bandeira brasileira que tinha tanto lápis de corMe diz, me responde por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabaQuem é que sabe o signo do capeta, o ascendente de Deus Nosso SenhorQuem não fez a patente da espoleta explodir na gaveta do inventorQuem tava no volante do planeta que o meu continente capotouMe responde por favorPra onde vai o meu amorQuando o amor acabaVê se tem no almanaque, essa menina, como é que termina um grande amorSe adianta tomar uma aspirina ou se bate na quina aquela dorSe é chover o ano inteiro chuva fina ou se é como cair o elevadorMe responde por favorPra que tudo começouQuando tudo acabaJoão e Maria (Chico Buarque/Sivuca)Agora eu era heróiE o meu cavalo só falava inglêsA noiva do cowboyEra vocêAlém das outras trêsEu enfrentava os batalhõesOs alemães e seus canhõesGuardava o meu bodoqueEnsaiava um rockPara as matinêsAgora eu era o reiEra o bedel e era também juizE pela minha leiA gente era obrigada a ser felizE você era princesa Que eu fiz coroarE era tão linda de se admirarQue andava nua pelo meu paísNão, não fuja nãoFinja que agora eu era o seu brinquedoEu era o seu piãoO seu bicho preferidoSim, me dê a mãoA gente agora já não tinha medoNo tempo da saudadeAcho que a gente nem tinha nascidoAgora era fatalQue o faz-de-conta terminasse assimPra lá desse quintalEra uma noite que não tem mais fimPois você sumiu no mundoSem me avisarE agora eu era um louco a perguntarO que é que a vida vai fazer de mimRoda-Viva (Chico Buarque)Tem dias que a gente se senteComo quem partiu ou morreuA gente estancou de repenteOu foi mundo então que cresceuA gente quer ter voz ativaNo nosso destino mandarMais eis que chega a roda vivaE carrega o destino pra láRoda mundo, roda-giganteRodamoinho, roda piãoO tempo rodou num instanteNas voltas do meu coraçãoA gente vai contra a correnteAté não poder resistirNa volta do barco é que senteO quanto deixou de cumprirFaz tempo que a gente cultivaA mais linda roseira que háMais eis que chega a roda-vivaE carrega a roseira pra láA roda da saia, a mulataNão quer mais rodar, não senhorNão posso fazer serenataA roda de samba acabouA gente toma a iniciativaViola na rua, a cantarMas eis que chega a roda-vivaE carrega a viola pra láO samba, a viola, a roseiraUm dia a fogueira queimouFoi tudo ilusão passageiraQue a brisa primeira levouNo peito a saudade cativaFaz força pro tempo pararMas eis que chega a roda-vivaE carrega a saudade pra láTrocando em Miúdos (Francis Hime/Chico Buarque)Eu vou lhe deixar a medida do BomfimNão me valeuMas fico com o disco do Pixinguinha, sim?O resto é seuTrocando em miúdos, pode guardarAs sobras de tudo que chamam larAs sombras de tudo que fomo nósAs marcas do amor nos nossos lençóisAs nossas melhores lembrançasAquela esperança de tudo se ajeitarPode esquecerAquela aliança, você pode empenharOu derreterMas devo dizer que não vou lhe darO enorme prazer de me ver chorarNem vou lhe cobrar pelo seu estragoMeu peito tão dilaceradoAliásAceite uma ajuda do seu futuro amorPro aluguelDevolva o Neruda que você me tomouE nunca leuEu bato o portão sem fazer alardeEu levo a carteira de identidadeUma saideira, muita saudadeE a leve impressão de que já vou tardeSamba do Grande Amor (Chico Buarque)Tinha cá pra mimQue agora simEu vivia enfim o grande amorMentiraMe atirei assimDe trampolimFui até o fim, um amadorPassava um verãoA água e pãoDava o meu quinhão pro grande amorMentiraEu botava a mãoNo fogo entãoCom meu coração de fiadorHoje eu tenho apenas uma pedra no meu peitoExijo respeito, não sou mais um sonhadorChego a mudar de calçadaQuando aparece uma florE dou risada do grande amorMentiraFui muito fielComprei anelBotei no papel o grande amorMentiraReservei hotelSarapatelE lua-de-mel em SalvadorFui rezar na SéPra São JoséQue eu levava féNo grande amorMentiraFiz promessa atéPra OxumaréDe subir a pé o RedentorBaioque (Chico Buarque)Quando eu cantoQue se cuideQuem não for meu irmãoO meu cantoPunhaladaNão conhece o perdãoQuando eu rioQuando rioRio secoComo é seco o sertãoMeu sorrisoÉ uma fendaEscavada no chãoQuando eu choroQuando choroÉ uma enchenteSurpreendendo o verãoÉ o invernoDe repenteInundando o sertãoQuando eu amoQuando amoEu devoroTodo o meu coraçãoEu odeioEu adoroNuma mesma oraçãoQuando eu cantoMamie, não quero seguirDefinhando sol a solMe leva daquiEu quero partirRequebrando um rock and rollNem quero saberComo se dança o baiãoEu quero ligarEu quero um lugarAo som de Ipanema, cinema e televisãoPedaço de Mim (Chico Buarque)Oh, pedaço de mimOh, metade de afastada de mimLeva o teu olharQue a saudade é o pior tormentoÉ pior do que o esquecimentoé pior do que se entrevarOh, pedaço de mimOh, metade exilada de mimLeva os teus sinaisQue a saudade dói como um barcoQue aos poucos descreve um arcoE evita atracar no caisOh, pedaço de mimOh, metade arrancada de mimLeva o vulto teuQue a saudade é o revés de um partoA saudade é arrumar o quartoDo filho que já morreuOh, pedaço de mimO, metade amputada de mimLeva o que há de tiQue a saudade dói latejadaÉ assim como uma fisgadaNo membro que já perdiOh, pedaço de mimOh, metade adorada de mimLeva os olhos meusQue a saudade é o pior castigoE eu não quero levar comigoA mortalha do amorAdeusFado Tropical (Chico Buarque/Ruy Guerra)Oh, musa do meu fadoOh, minha mãe gentilTe deixo consternadoNo primeiro abrilMas não sê tão ingrataNão esquece quem te amouE em tua densa mataSe perdeu e se encontrouAi, esta terra ainda vai cumprir seu idealAinda vai tornar-se um imenso Portugal"Sabe, no fundo eu sou um sentimentalTodos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, é claro)Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidarMeu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."Com avencas na caatingaAlecrins no canavialLicores na moringaUm vinho tropicalE a linda mulataCom rendas de AlentejoDe quem numa bravataArrebata um beijoAi, esta terra ainda vai cumprir seu idealAinda vai tornar-se um imenso Portugal"Meu coração tem um sereno jeitoE as minhas mãos o golpe duro e prestoDe tal maneira que, depois de feitoDesencontrado, eu mesmo me confessoSe trago as mãos distantes do meu peitoÉ que há distância entre intenção e gestoE se o meu coração nas mãos estreitoMe assombra a súbita impressão de incestoQuando me encontro no calor da lutaOstento a agida empunhadora à proaMas meu peito se desabotoaE se a sentença se anuncia brutaMais que depressa a mão cega executaPois que senão o coração perdoa"Guitarras e sanfonasJasmins, coqueiros, fontesSardinhas, mandiocaNum suave azulejoE o rio AmazonasQue corre Trás-os-montesE numa pororocaDeságua no TejoAi, esta terra ainda vai cumprir seu idealAinda vai tornar-se um imenso PortugalAi, esta terra ainda vai cumprir seu idealAinda vai tornar-se um império colonialCaçada (Chico Buarque)Não conheço seu nome ou paradeiroAdivinho seu rastro e cheiroVou armado de dentes e coragemVou morder sua carne selvagemVaro a noite sem cochilar, aflitoAmanheço imitando seu gritoMe aproximo rodando a sua tocaE ao me ver você me provocaVocê canta sua agonia loucaÁgua que borbulha na bocaMinha presa rugindo sua raçaPernas se debatendo e o seu fervorHoje é o dia da graçaHoje é o dia caça e do caçadorEu me espicho no espaço feito um gatoPra pegar você, bicho do matoSaciar sua avidez mestiçaQue ao me ver se encolhe e me atiçaQue num impulso me expulsa e abraçaNossa peles grudando de suorHoje é o dia da graçaHoje é o dia caça e do caçadorDe tocaia fico a espreitar a feraLogo dou-lhe o bote certeiroJá conheço seu dorso de gazelaCavalo brabo montado em peloDominante, não se desembaraçaOfegante, é dona do seu senhorHoje é o dia da graçaHoje é o dia caça e do caçadorDeus lhe Pague (Chico Buarque)Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormirA certidão pra nascer e a concessão pra sorrirPor me deixar respirar, por me deixar existirDeus lhe paguePelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"Pela piada no bar e o futebol pra aplaudirUm crime pra comentar e um samba pra distrairDeus lhe paguePor essa praia, essa saia, pelas mulheres daquiO amor malfeito depressa, fazer a barba e partirPelo domingo que é lindo, novela, missa e gibiDeus lhe paguePela cachaça de graça que a gente tem que engolirPela fumaça, desgraça, que a gente tem que cairPelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cairDeus lhe paguePor mais um dia, agonia, pra suportar e assistirPelo rangido dos dentes, pela cidade a zunirE pelo grito demente que nos ajuda a fugirDeus lhe paguePela mulher carpideira pra nos louvar e cuspirE pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrirE pela paz derradeira que enfim vai nos redimirDeus lhe pagueCiranda da Bailarina (Edu Lobo/Chico Buarque)Procurando bemTodo mundo tem perebaMarca de bexiga ou vacinaE tem piriri, tem lombriga, tem amebaSó a bailarina que não temE não tem coceiraBerruga nem frieiraNem falta de maneira Ela não temFutucando bemTodo mundo tem piolhoOu tem cheiro de creolinaTodo mundo tem um irmão meio zarolhoSó a bailarina que não temNem unha encardidaNem dente com comidaNem casca de feridaEla não temNão livra ninguém Todo mundo tem remelaQuando acorda às seis da matinaTeve escarlatinaOu tem febre amarelaSó a bailarina que não temMedo de subir, genteMedo de cair, genteMedo de vertigemQuem não temConfessando bemTodo mundo faz pecadoLogo assim que a missa terminaTodo mundo tem um primeiro namoradoSó a bailarina que não temSujo atrás da orelhaBigode de groselhaCalcinha um pouco velhaEla não temO padre tambémPode até ficar vermelhoSe o vento levanta a batinaReparando bem, todo mundo tem pentelhoS;o a bailarina que não temSala sem mobíliaGoteira na vasilhaProblema na famíliaQuem não temIlmo Sr. Ciro Monteiro (ou receita pra virar casaca de neném)(Chico Buarque)Amigo CiroMuito te admiroO meu chapéu te tiroMuito humildementeMinha petizAgradece a camisaQue lhe deste à guisaDe gentil presenteMas caro negoUm pano rubro-negroÉ presente de gregoNão de um bom irmãoNós separadosNas arquibancadasTemos sidos tão chegadosNa desolaçãoAmigo velhoAmei o teu conselhoAmei o teu vermelhoQue é de tanto ardorMas quis o verdeQue te quero verdeÉ bom pra quem vai terDe ser bom sofredorPintei de branco o teu pretoFicando completo O jogo de corVirei-lhe o listrado do peitoE nasceu nesse peitoUma outra tricolorBom Conselho (Chico Buarque)Ouça um bom conselhoQue eu lhe dou de graçaInútil dormir a dor não passaEspere sentadoOu você se cansaEstá provado, quem espera nunca alcançaVenha, meu amigoDeixe esse regaçoBrinque com meu fogoVenha se queimarFaça como eu digoFaça como eu façoAja duas vezes antes de pensarCorro atrás do tempoVim de não sei ondeDevagar é que não se vai longeEu semeio o ventoNa minha cidadeVou pra rua e bebo a tempestadeRosa-dos-Ventos (Chico Buarque)E do amor gritou-se o escândaloDo medo criou-se o trágicoNo rosto pintou-se o pálidoE não rolou uma lágrimaNem uma lástimaPra socorrerE na gente deu o hábitoDe caminhar pelas trevasDe murmurar entre as pregasDe tirar leite das pedrasDe ver o tempo correrMas, sob o sono dos séculosAmanheceu o espetáculoComo uma chuva de pétalasComo se o céu vendo as penasMorresse de pena E chovesse o perdãoE a prudência dos sábiosNem ousou conter nos lábiosO sorriso e a paixãoPois transbordando de floresA calma dos lagos zangou-seA rosa-dos-ventos danou-seO leito dos rios fartou-seE inundou de água doceA amargura do marNuma enchente amazônicaNuma explosão atlânticaE a multidão vendo em pânicoE a multidão vendo atônitaAinda que tardeO seu despertarPelas Tabelas (Chico Buarque)Ando com minha cabeça já pelas tabelasClaro que ninguém se toca com minha afliçãoQuando vi todo mundo na rua de blusa amarelaEu achei que era ela puxando um cordãoDão oito horas e danço de blusa amarelaMinha cabeça talvez faça as pazes assimQuando vi a cidade de noite batendo panelasEu pensei que era ela voltando pra mimMinha cabeça de noite batendo panelasProvavelmente não deixa a cidade dormirQuando vi um bocado de gente descendo as favelasEu achei que era o povo que vinha pedirA cabeça de um homem que olhava as favelasMinha cabeça rolando no MaracanãQuando vi a galera aplaudindo de pé as tabelasEu jurei que era ela que vinha chegandoCom minha cabeça já pelas tabelasClaro que ninguém se toca com minha afliçãoQuando vi todo mundo na rua de blusa amarelaEu achei que era ela puxando o cordãoDão oito horas e danço de blusa amarelaMinha cabeça talvez faça as pazes assimQuando ouvi a cidade de noite batendo panelasEu pendei que era ela voltando pra mimMinha cabeça de noite batendo panelasProvavelmente não deixa a cidade dormirQuando vi um bocado de gente descendo as favelasEu achei que era o povo que vinha pedirA cabeça de um homem que olhava as favelasMinha cabeça rolando no MaracanãQuando vi a galera aplaudindo de pé as tabelasEu jurei que era ela que vinha chegandoCom minha cabeça já numa baixelaClaro que ninguém se toca com a minha afliçãoQuando vi todo mundo na rua de blusa amarelaEu achei que era ela puxando um cordãoNão Sonho Mais (Chico Buarque)Hoje eu sonhei contigoTanta desdita, amorNem te digoTanto castigoQue eu tava aflita de te contarFoi um sonho medonho Desses que às vezes a gente sonhaE baba na fronha E se urina todaE quer sufocarMeu amorVi chegando um trem de candangoFormando um bandoMas que era um bando de orangotangoPra te pegarVinha nego humilhadoVinha morto-vivoVinha flageladoDe tudo que é ladoVinha um bom motivoPra te esfolarQuanto mais tu corriaMais tu ficavaMais atolavaMais te sujavaAmor, tu fediaEmpestava o arTu, que foi tão valenteChorou pra gentePediu piedadeE olha que maldadeMe deu vontadeDe gargalharAo pé da ribanceiraAcabou-se a liçaE escarreite inteiraA tua carniçaE tinha justiçaNesse escarrarTe rasgamos a carcaçaDescemo a ripaViramo as tripaComemo os ovoAi, e aquele povoPôs-se a cantarFoi um sonho medonhoDesses que às vezes a gente sonhaE baba na fronhaE se urina todaE já não tem pazPois, eu sonhei contigoE cai da camaAi, amor, não brigaAi, não me castigaAi, diz que me amaE eu não sonho maisConstrução (Chico Buarque)Amou daquela vez como se fosse a últimaBeijou sua mulher como se fosse a últimaE cada filho seu como se fosse o únicoE atravessou a rua com seu passo tímidoSubiu a construção como se fosse máquinaErgueu no patamar quatro paredes sólidasTijolo com Tijolo num desenho mágicoSeus olhos embotados de cimento e lágrimaSentou pra descansar como se fosse sábadoComeu feijão com arroz como se fosse um príncipeBebeu e soluçou como se fosse um náufragoDançou e gargalhou como se ouvisse músicaE tropeçou no céu como se fosse um bêbadoE flutuou no ar como se fosse um pássaroE se acabou no chão feito um pacote flácidoAgonizou no meio do passeio públicoMorreu na contramão atrapalhando o tráfegoAmou daquela vez como se fosse o últimoBeijou sua mulher como se fosse a únicaE cada filho seu como se fosse pródigoE atravessou a rua com se passo bêbadoSubiu a construção como se fosse sólidoErgueu no patamar quatro paredes mágicasTijolo com tijolo num desenho lógicoSeus olhos embotados de cimento e tráfegoSentou pra descansar como se fosse um príncipeComeu feijão com arroz como se fosse o máximoBebeu e soluçou como se fosse máquinaDançou e gargalhou como se fosse o próximoE tropeçou no céu como se ouvisse músicaE flutuou no ar como se fosse sábadoE se acabou no chão feito um pacote tímidoAgonizou no meio do passeio náufragoMorreu na contramão atrapalhando o públicoAmou daquela vez como se fosse máquinaBeijou sua mulher como se fosse lógicoErgueu no patamar quatro paredes flácidasSentou pra descansar como se fosse um pássaroE flutuou no ar como se fosse um príncipeE se acabou no chão feito um pacote bêbadoMorreu na contramão atrapalhando o sábadoFragmentos (Re)ConstruçãoAmou daquela vez como se fosse a últimaBeijou sua mulher como se fosse a únicaE cada filho seu como se fosse o pródigoE atravessou a rua com seu passo tímidoSubiu a construção como se fosse máquinaErgueu no patamar quatro paredes sólidasTijolo com tijolo num desenho lógicoSeus olhos embotados de cimento e lágrimaE flutuou no ar como se fosse um pássaroE se acabou no chão feito um pacote bêbadoAgonizou no meio do passeio públicoMorreu na contramão atrapalhando o tráfegoO Que Será (À Flor da Pele)(Chico Buarque)O que será que me dáQue me bole por dentro, será que me dáQue brota a flor da pele, será que me dáE que me sobe às faces e me faz corarE que me salta aos olhos a me atraiçoarE que me aperta o peito e me faz confessarO que não tem mais jeito de dissimularE que nem é direito ninguém recusarE que me faz mendigo, me faz suplicarO que não tem medida, nem nunca teráO que não tem remédio, nem nunca teráO que não tem receitaO que será que seráQue dá dentro da gente e que não deviaQue desacata a gente, que é reveliaQue é feito uma aguardente que não saciaQue é feito estar doente de uma foliaQue nem dez mandamentos vão conciliarNem todos os ungüentos, vão aliviarNem todos os quebranto, toda alquimiaQuem nem todos os santos, será que seráO que não tem descanso, nem nunca teráO que não tem cansaço, nem nunca teráO que não tem limiteO que será que me dáQue me queima por dentro, será que me dáQue me perturba o sono, será que me dáQue todos os tremores me vêm agitarQue todos os ardores me vêm atiçarQue todos os suores me vêm encharcarQue todos os meus nervos estão a rogarQue todos os meus órgãos estão a clamarE uma aflição medonha, me faz implorarO que não tem vergonha, nem nunca teráO que não tem governo, nem nunca teráO que não tem juízo

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Meu Fado - Fafá de Belém


1. Canção grata
(Teresa Silva Carvalho - Carlos Queiroz)

Por tudo o que me deste
Inquietação cuidado
Um pouco de ternura
É certo mas tão pouca

Noites de insónia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada

Por aquela tão doce e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui

Sem ironia aceita
A minha gratidão
Que bem que me faz agora o mal que me fizeste

Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada

Obrigada por tudo o que me deste
Por aquela tão doce e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

2. Canoa do Tejo
(Frederico de Brito)

Canoa de vela erguida
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota que anda perdida
Sem encontrar companheira,

O Vento sopra nas Fragas,
O Sol parece um morango
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango

Canoa, conheces bem,
Quando há Norte pela proa,
Quantas docas tem Lisboa
E as muralhas que ela tem!

Canoa, por onde vais,
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao Cais!
Nunca, nunca, nunca mais!!

Canoa de vela panda
Que vens da Boca da Barra
E trazes na aragem branda
Gemidos duma guitarra,

Teu arrais prendeu a vela;
E se adormeceu, deixá-lo!
Agora muita cautela
Não vá o Mar acordá-lo!

3. Nem às paredes confesso
(Francisco Ferrer Trindade - Maximiano de Sousa - Artur Joaquim Almeida Ribeiro)

Não queiras gostar de mim
Sem que eu te peça,
Nem me dês nada que ao fim
Eu não mereça

Vê se me deitas depois
Culpas no rosto
Eu sou sincera
Porque não quero
Dar-te um desgosto

De quem eu gosto nem às paredes confesso
E nem aposto
Que não gosto de ninguém
Podes rogar
Podes chorar
Podes sorrir também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso.

Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por tique eu tanto espero.
Se gosto ou não afinal
Isso é comigo,
Mesmo que penses
Que me convences
Nada te digo.

4. Sombras da madrugada
(Antônio José Lopes Lampreja - Ferrer Trindade)

Vi uma sombra bem unida
a dela e a tua
e a minha sombra já esquecida
surpreendida
parou na rua!
os dois bem juntos, tu e ela
nenhum reparou
que a outra sombra era daquela
que tu não queres
mas já te amou!
É madrugada não importa
neste silêncio há mais verdade
a noite é triste e tão sózinha
parece minha
toda a cidade!
nem um cigarro me conforta
nem o luar hoje me abraça
eu não te encontrarei jamais
e nestas noites sempre iguais
sou mais uma sombra que passa
sombra que passa e nada mais.
Ao longo desta madrugada
a sombra da vida
mora nas pedras da calçada
já não tem nada
anda perdida
quando a manhã, desce enfeitada
no sol, que a procura
nem sabe quanto a madrugada
chora baixinho
tanta amargura!

5. Sempre que Lisboa canta
(Carlos Rocha - Anibal Nazaré)

Lisboa cidade amiga
que és meu berço de embalar
ensina-me uma cantiga
das que tu sabes cantar
Uma cantiga singela
Daquelas de enfeitiçar
P'ra eu cantar à janela
Quando o meu amor passar

Sempre que Lisboa canta
Não sei se canta
Não sei se reza
A sua voz com carinho
Canta baixinho
Sua tristeza
Sempre que Lisboa canta
à gente encanta
Sua beleza
Pois quando Lisboa canta
Canta o fado
com certeza

Eu quero dar-te um castigo
Por tanto te ter amado
Quero que cantes comigo
Os versos do mesmo fado
Quero que Lisboa guarde
Tantos fados que cantei
Para cantar-me mais tarde
Os fados que lhe ensinei

6. Procuro e não te encontro
(Nobrega e Sousa - Antônio José)

Procuro e não te encontro
Não paro, nem volto atrás
Eu sei, dizem todos que é loucura
Eu andar à tua procura
Sabendo bem onde tu estás!
Procuro e não te encontro
Procuro nem sei o quê!
Só sei, que por vezes ficamos frente a frente
E ao ver-te ali finalmente
Procuro, mas não te encontro!
Preferes a outra e queres
Que eu nunca, vá ter contigo
Por isso, tenho um caminho marcado
E vou procurar-te ao passado
Para lembrar o amor antigo
Procuro e não te encontro,
Procuro, nem sei o quê
Só sei, que por vezes ficamos frente a frente
E ao ver-te ali finalmente
Procuro, mas... não te encontro!

7. Confesso
(José Galhardo - Frederico Valério)

Confesso que te amei, confesso
Não coro ao te dizer, não coro
Pareço outra mulher, ai, pareço
Mas lá chorar por ti, não choro

Fugir do amor tem seu preço
E a noite em claro atravesso,
longe do meu travesseiro
Começo a ver que não esqueço,
mas lá perdão não te peço,
sem que me peças primeiro

De rastros a teus pés, perdida te adorar
Até que me encontrei perdida
Agora já não és na vida o meu senhor
Mas foste o meu amor na vida

Não penses mais em mim, não penses
Não estou nem para te ouvir por carta
Convences as mulheres, ai, convences
Estou farta de saber, estou farta
Não escrevas mais, nem me incenses
Quero que tu me diferences,
dessas que a vida te deu
A mim já não me pertences,
Vir a vencer-me não vences,
porque vencida estou eu

De rastros a teus pés, perdida te adorar
Até que me encontrei perdida
Agora já não és na vida o meu senhor
Mas foste o grande amor da minha vida

8. Fado das queixas
(Frederico de Brito - Carlos Rocha)

P'ra que te queixas de mim
Se eu sou assim
como tu és,
Barco perdido no mar
Que anda a bailar
Com as marés?
Tu já sabias
Que eu tinha o queixume
Do mesmo ciúme
Que sempre embalei...
Tu já sabias
Que amava deveras;
Também quem tu eras,
Confesso, não sei!

Não sei
Quem és
Nem quero saber,
Errei
Talvez,
Mas que hei-de fazer?
A tal paixão
Que jamais findará,
-- Pura ilusão! --
Ninguém sabe onde está!
Dos dois,
Diz lá
O que mais sofreu!
Diz lá
Que o resto sei eu!

P'ra que me queixo eu também
Do teu desdem
Que me queimou
Se é eu queixar-me afinal
Dum temporal
Que já passou?
Tu nem calculas
As mágoas expressas
E a quantas promessas
Calámos a voz!
Tu nem calculas
As bocas que riam
E quantas podiam
Queixar-se de nós!

9. Olhos castanhos
(Alves Coelho)

Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhossão raios de luz.
Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
Olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição
são crueis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.

10. Só nós dois
(Joaquim Pimentel)

Só nós dois é que sabemos
O quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois avaliamos
Este amor, forte, profundo...
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo
Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esqueça o que vai na rua
Vem ser meu, eu serei tua
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Ca; dentro da nossa porta.
Só nós dois é que sabemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
As torturas dos desejos
Vamos viver o presente
Tal-qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será.

11. Só à noitinha
(Frederico Valério - Raul Ferrão - Amadeu do Vale)

Tive-lhe amor
Gemi de dor
De dor violenta
Chorei sofri
E até por si
Fui ciumenta
Mas todo o mal
Tem um final
Passa depressa
E hoje você
Não sei porquê
Já não me interessa
Bendita hora
Que o esqueci
Por ser ingrato
E deitei fora
As cinzas do teu retrato
Desde desse dia
Sou feliz sinceramente
Tenho a alegria
Pra cantar e andar contente
Só à noitinha
Quando me chega a saudade
Choro sozinha
Pra chorar mais à vontade

12. Memórias
(Leonardo Sullivan)

Você foi a maior das minhas amarguras
E vive até hoje na minha loucura
E foi a mais cruel de todas as vitórias
E faz parte do livro das minhas memórias
Lembrar de que nada de bom você me deu
Só machuca alguém que não viveu
Vou recomeçar
Vou tentar viver
Vou tirar você da minha vida
E pra não chorar
Antes de partir
Vou tentar sorrir na despedida
E agora que voltei à minha realidade
Tentando esquecer que tudo foi verdade
Vou rebuscando fundo nas minhas memórias
Pra riscar você da minha história
Vou recomeçar
Vou tentar viver
Vou tirar você da minha vida
E pra não chorar
Antes de partir
Vou tentar sorrir na despedida

13. Tudo isto é fado
(F. Carvalho - Anibal Nazaré)

Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Eu disse que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
E disse que não sabia
Mas vou-te dizer agora
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
É canção que é meu castigo
Só basceu p'ra me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer

Alpinismo social

Artigo muito bem escrito pelo jornalista potiguar Carlos Fialho em 2007.

Papai, quando eu crescer eu quero ser um colunista social, a profissão mais promissora de Natal. Terei respeito, dinheiro, projeção e tudo mais que um trabalhador bem sucedido almeja. Terei empresários, políticos e socialaites, sobretudo as socialaites, aos meus pés, à minha mercê, em minhas mãos.

Papai você vai sentir tanto orgulho do seu filhinho! Vai até esquecer aquela história de eu ter que fazer direito, ou medicina ou engenharia. Vôts! Colunista social é o que há, painho. Não, não, nada disso. Também não precisa diploma de jornalismo não. O verdadeiro colunista social é autodidata. Aprende fazendo ou, no meu caso, observando o que os outros já fizeram. Eu já sei direitinho o que vou fazer. Terei uma carreira meteórica, você vai ver.

Para provar que não estou delirando e que não se trata de um sonho irresponsável de um jovem idealista, tenho dados comprobatórios de que o nicho de mercado para esta categoria profissional está em franca ascensão. Com o desenvolvimento econômico da cidade, muitos empresários têm prosperado, criando um grande contingente de novos ricos despreparados, mal educados, burros como uma porta, casados com esposas de hábitos fúteis e pais de filhos mimados. Essas famílias desprovidas de qualquer traço de caráter e personalidade farão de tudo para saírem em minha coluna.

Considerando que os empresários mais antigos e supostamente mais bem preparados e inteligentes também não são lá grandes coisas no que toca o intelecto e sempre precisarão de notinhas e fotinhas nas páginas dos noticiários que os mantenham em evidência, eles também acabarão se tornando meus clientes. Isso sem falar nos representantes do mundo jurídico. Promotores, juízes, advogados, todo mundo pagando para figurar com um belo sorriso, acompanhado de um elogio e de um dos termos inconfundíveis que eu mesmo vou inventar.

Serei um colunista com estilo próprio. Vai ser tuuuuuudo!!! E os dentistas e médicos, proprietários de clínicas da cidade? E os donos de construtoras? E de restaurantes? E de concessionárias de veículos? Todo mundo querendo sair na coluna do seu filhinho aqui. Afe! Que povo pra gostar de aparecer! Mas tem que gostar mesmo, pois se não aparecer na minha página no jornal, não existe, desaparece aos olhos da sociedade, vira um (argh!) fracasso total.

Eu próprio terei que cultivar uma imagem bastante exuberante de mim mesmo. Terei que virar um personagem, uma caricatura ambulante, cheia de trejeitos e idiossincrasias, um verdadeiro pavão quase humano. Serei afetadamente afeminado, mas sem nunca assumir uma suposta homossexualidade. Arrumarei até um casamento de fachada se preciso for. Ficarei bêbado em festas e armarei barracos memoráveis como parte de minha excentricidade de colunista. E ai de quem sair por aí sujando meu nome, queimando meu filme, denegrindo minha imagem! Tornar-se-á vítima de minhas estocadas venenosas, minha ironia fina, minhas canetadas ferinas demolidoras de reputações. Falar mal de mim, papai, não é uma opção.

Você deve estar se perguntando: "E isso dá dinheiro?" Não é isso que os pais querem saber sempre que os filhos escolhem uma profissão? O lance, papaizinho, é que pra aparecer dentro do meu espaço lindo maravilhoso no Diário do Norte de Hoje, tem que pagar! Comigo é assim: dinheiro na mão, calcinha no chão. E isso vale pro empresário falido que quer passar imagem de ricaço, pra mulher depressiva que deseja justificar sua existência desprezível escondendo-se sob um sorriso mais artificial que sua beleza comprada em clínicas de estética e cirurgia plástica da cidade, pro filho mimado que não pega ninguém que será promovido de semi-virgem a novo Don Juan graças a uma notinha minha.

Tudo será cobrado, com direito a mimos adicionais e favores "espontâneos" a cada novo cliente conquistado, mulher adquirida ou pequenas doses de felicidade vazia proporcionadas. - E sabe do que mais, pai? Eu também poderei ser um grande promotor de festas. Serão festas anuais que reunirão a nata da sociedade natalense paracelebrar a mediocridade reinante nesta terra de Poti. Cada convidado pagará R$ 200 para ter a honra de comparecer e ai de quem não quiser pagar, pois será condenado ao ostracismo e obscurantismo inevitável que assombra os discretos. Aliás, não há gente que odeie mais que os discretos! Ô raça! Mas voltando às festas, painho, sabe do melhor? Não gastarei um tostão com elas, pois terei patrocínio de construtoras, shopping-centers, universidades particulares, da prefeitura e até do governo do estado! É mole? A prefeitura e o governo me darão milhares de reais por uma festa para a qual eu cobrarei caro o acesso e ainda me deixará cheio de dinheiro.

Só pra você sentir o peso da minha influência. Pra não pegar muito mal, invento uma lorota de que a festa é beneficente, dou umas entrevistas falando de caridade, solidariedade e pronto. As pessoas da sociedade nem vão se importar em pagar pelas senhas da festa e vão até se sentir bem, pois nunca terão feito um gesto de bondade pra seu ninguém em suas egoístas e amorais biografias. Daí, poderei sempre me defender dizendo que todo o dinheiro arrecadado com minhas festas irão para a caridade, que as empresas que me patrocinaram são responsáveis socialmente e ninguém vai nem atentar ao fato de eu comprar um Land Rover na semana seguinte à festa, apesar de manter o condomínio do meu prédio atrasado pelo décimo mês consecutivo. Bem, painho, é isso. Espero que você aprove e abençoe a minha escolha profissional. Serei um colunista dedicado e darei tudo de mim para ascender profissionalmente neste ninho de cobras. Não há cidade mais indicada para o colunismo do que Natal. Nossa classe média e alta sociedade são vazias e vaidosas o suficiente para me deixar rico e até os governos vão ser patrocinadores do meu estilo de vida. E assim vou prosperando, subindo na vida, sugando da sociedade o que ela tem de pior, maquiando meticulosamente em minhas colunas diárias a falta de caráter de nossos ilustres, amenizando sua falta de carisma, inutilidade e idiotice.Você vai ter orgulho de mim, painho. Tenho certeza disso.