quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Bebendo na fonte de Plínio Marcos

“…Mas o ator tem que se conscientizar de que é um cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade e sobretudo em transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.”

“Eu amo os atores nas suas alucinantes variações de humor, nas suas crises de euforia ou depressão. Amo o ator no desespero de sua insegurança, quando ele, como viajor solitário, sem a bússola da fé ou da ideologia, é obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente, procurando no seu mais secreto íntimo afinidades com as distorções de caráter que seu personagem tem. E amo muito mais o ator quando, depois de tantos martírios, surge no palco com segurança, emprestando seu corpo, sua voz, sua alma, sua sensibilidade para expor sem nenhuma reserva toda a fragilidade do ser humano reprimido, violentado. Eu amo o ator que se empresta inteiro para expor para a platéia os aleijões da alma humana, com a única finalidade de que seu público se compreenda, se fortaleça e caminhe no rumo de um mundo melhor que tem que ser construído pela harmonia e pelo amor.”

A função do artista nada mais é, que se despir do que é, e se vestir do que vai “vender”.

VIVA PLÍNIO MARCOS, UM DOS MAIORES ARTISTAS DESTE PAÍS!!!!

Um comentário:

geralda disse...

Auspicioso o seu cuidado em nos remeter à reflexão através das palavras de Plínio Marcos.
Egóticos seres que somos, nos apegamos aos pensamentos. Nos criamos e nos re-criamos no oceano dos pensamentos, que nada mais são como o “tecido dos sonhos durante a noite”.
O ator rompe com esse paradigma e se veste de muitos egos. Veste e desveste inúmeras máscaras. Não seria já um exercício de desapego? Aversão e apego às aparências começam a ser questionadas. Estaria, porém, preparado para liberar o apego e receber a aversão?
Respeitosamente cito Yongey Mingyur Riponche:
(...) A noção de um “eu” duradouro e independentemente existente nos impele a despender enorme esforço para resistir à inevitabilidade da mudança, certificando-nos de que esse “eu” se manterá protegido e seguro. Quando atingimos uma condição que nos faz sentir completos e inteiros, queremos que tudo permaneça exatamente como está. Quanto mais profundo é nosso apego a qualquer coisa que nos fornece esse senso de completude, maior é nosso medo de perdê-lo e mais brutal é nossa dor se o perdermos”.
Obrigada por me remeter à contemplação.
Abraço afetuoso.
Geraldín Rubi