domingo, 23 de dezembro de 2007

Quem não se aprimora se estupora

Artigo escrito por Washington Olivetto*, publicado na Época Negócios.

No final dos anos 70 do século passado, o comunicador Abelardo Barbosa – o Chacrinha – resolveu acrescentar mais uma categoria ao seu famoso Troféu Velho Guerreiro, que premiava o melhor cantor, a melhor cantora, o melhor ator, a melhor atriz etc. da televisão brasileira: a categoria "o melhor publicitário". Tive o privilégio de ser o ganhador. Alguns dos meus colegas na época acharam a coisa brega, popularesca, pouco chique.

Mas eu, que já era fã do Chacrinha desde antes de 1968, quando ele foi consagrado "doutor honoris causa em comunicação" pelos tropicalistas, adorei o fato e fui feliz da vida receber o meu prêmio. Obsessivo por pontualidade, cheguei, no dia do programa, meia hora antes do combinado e, graças a isso, recebi uma grande lição. Por mais de 20 minutos, pude observar, por detrás do backstage, uma equipe do Chacrinha montando as chacretes, vestindo os músicos, testando os efeitos de som, iluminação e gelo seco.

Enquanto isso, outra equipe ensaiava o auditório: a hora de aplaudir, o que responder quando o Chacrinha perguntasse "Vocês querem bacalhau?", em que tom gritar "uhh-uhhh" quando o Chacrinha berrasse "Teresinha".De repente, interrompendo a minha observação, chegou o próprio Chacrinha, que, enfático, me disse: "Olá, Washington Olivetto. Como vai? Vai bem?" E, antes que eu respondesse, completou: "Viu como aqui é tudo organizado?" Respondi um tímido sim, e ele completou: "E você sabe por que é assim organizado? Porque aí eu entro e desorganizo. Se não estiver organizado, não dá pra desorganizar. "Recordei essa história em agosto passado, na Alemanha, durante uma palestra que fiz na Berlin School of Creative Leadership – escola exclusiva para todo potencial fora-de-série do universo da comunicação.

* Washington Olivetto é publicitário e presidente da W/Brasil.

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